13. Com FHC, Brasil teve menos consumo das famílias e menos investimentos; com Lula e Dilma, mais consumo e mais investimentos

17/07/2015 | Brasil 1994/2014

Todo o debate da política econômica travado pela oposição, em especial pelo tucano Aécio Neves e seu guru Armínio Fraga, centra na crítica à política econômica dos governos Lula e Dilma, que supostamente estaria priorizado em demasiado o consumo em detrimento dos investimentos. É muita cara de pau dos tucanos e de Armínio Fraga, como pode ser visto na tabela. É o contrário: foram os tucanos que destroçaram a capacidade de investimento de nossa economia. 

Crescimento do PIB, do consumo das famílias e do investimento – 1995 a 2014

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Investimento e consumo das famílias: o passado condena os tucanos

Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central de FHC e coordenador de programa do tucano Aécio Neves na eleição presidencial de 2014, escreveu junto com Marcos Lisboa um artigo, na Folha de S.Paulo, de 25/05/2014, que é um primor de demagogia. Disseram eles: “A política econômica retornou ao centro do debate com seu sucesso em estimular o consumo, porém não o investimento e o crescimento. Pouco se discute o lado da oferta, onde se encontra o maior desafio: aumentar a produtividade da economia, essencial para a convergência dos padrões de vida da população aos dos países mais ricos”.

Que autoridade tem estes dois senhores para fazerem estas críticas aos governos do PT? Nenhuma. Armínio Fraga, especialmente, foi presidente do Banco Central durante 1999 a 2002 e sua gestão e de toda a área econômica fracassou no crescimento, no consumo das famílias e na taxa de investimentos. Veja a tabela: em toda a gestão de FHC, o PIB médio foi de 2,44%, o consumo das famílias foi de 2,66%, e a taxa de investimento, com toda a suposta credibilidade que os tucanos têm no mercado, não cresceu quase nada: foi de apenas 1,56%. 

Vamos desagregar a era FHC nos anos em que Armínio Fraga era o todo poderoso presidente do Banco Central, de 1999 a 2002. Naquele período, os números de nossa economia foram ainda mais sofríveis. O crescimento do PIB foi de 2,30%; o consumo das famílias apresentou crescimento de 1,75%; e a taxa de investimento, que Armínio Fraga diz tanto valorizar, foi negativa de -1,12% ao ano. É este economista incoerente, que agora critica os governos Lula e Dilma por “não priorizarem os investimentos”. 

Investimentos avançaram nos governos petistas, especialmente de Lula

Numa longa matéria no final de novembro de 2013, o jornal Valor Econômico discute o que é, afinal, lidera o crescimento de nossa economia. Afirmou o jornal: “Economistas divergem sobre qual tem sido o motor do crescimento da economia brasileira. Na média dos últimos 11 anos e em uma análise sobre a variação acumulada de 2003 a 2013, o investimento lidera, argumentam, com diferentes planilhas, um grupo de economistas. A baixa taxa de investimento em relação ao PIB e a maior contribuição do consumo para o PIB sustentam o argumento do segundo grupo, que refuta a indução pelo investimento e entende que é o consumo que tem puxado o crescimento.(...) "Difundiu-se a ideia de que o crescimento da economia brasileira é puxado pelo consumo. Isso está errado", disse Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), durante palestra na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no início do mês.

Continua o Valor Econômico: “Numa análise de longo prazo, Barbosa se contrapõe à visão corrente de que o crescimento econômico dos anos Lula e dos três primeiros anos da presidente Dilma Rousseff foram empurrados, sobretudo, pelo consumo”. “Apesar das políticas que incentivaram e ainda incentivam o consumo, para o ex-secretário - ele deixou o governo em junho -, no período 2003-2012, o consumo das famílias 'puxou' o crescimento da economia, ou seja, cresceu mais do que o investimento, só em quatro momentos (2003, 2005, 2009 e 2012). O investimento, por outro lado, aumentou mais do que o consumo em seis anos (2004, 2006, 2007, 2008, 2010 e 2011)”. 

Também em 2013, o investimento superou o consumo das famílias, e, em 2014, de fato, o investimento teve um recuo expressivo. Ou seja, nos doze anos dos governos do PT, os investimentos superaram o consumo das famílias em sete deles e foi menor em cinco anos. Se agregarmos os 12 anos de governos do PT, veremos que os investimentos, com crescimento médio de 5,10% ao ano, subiram mais do que o consumo médio das famílias de 3,98% de crescimento médio ao ano. É preciso, de fato, ampliar os investimentos na economia, mas os empresários não irão investir se o consumo não estiver também “bombando”. Ou seja, ninguém será convencido a investir em capacidade ociosa. 

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A tabela anterior mostra como ficou em percentual do PIB a taxa de investimento global na economia e, desagregado, os investimentos federais. Os governos do PT foram superiores ao governo FHC. Como cresceu abaixo do PIB, a taxa de investimentos recuou 14% no governo FHC de 20,81%, em 1994, para 18% em 2002 e os investimentos federais ficaram em 1,9% do PIB em 2002. Depois de 12 anos de governos do PT, a taxa de investimento cresceu quase 10%, passando de 18% para 19,7%, e os investimentos federais subiram 47%, passando de 1,9% para 2,8% do PIB.  

Dilma tentou construir um novo pacto desenvolvimentista

Existe entre os empresários um enorme mau humor com a presidenta Dilma, desde 2013 especialmente. Mas como assim? Dilma no seu mandato implementou políticas que eram reclamadas por lideranças empresariais há anos: como a redução da taxa de juros; a melhoria do câmbio para favorecer as exportações; a desoneração tributária; e a redução do preço da energia elétrica. Mas a presidenta foi surpreendida pela “coligação dos juros altos”, que é muito mais ampla do que parece. 

O jornal Valor Econômico, estampou manchete no dia 07-10-2013: “Dilma agirá para abrandar a desconfiança dos empresários”. O jornal explica o mau humor: “O Palácio do Planalto avalia que cometeu dois erros de cálculo. Um foi imaginar que a queda de 525 pontos da taxa de juros entre agosto de 2011 e março deste ano - período em que a Selic saiu de 12,5% para 7,25% ao ano - implicaria em um enorme incentivo ao investimento privado. Outro foi abrir mão de mais de R$ 70 bilhões em receitas para conceder desonerações de tributos, comprometendo a meta fiscal, para colher um aumento do investimento que não veio. (...) "Foi uma ilusão do governo", comentou uma fonte da presidência da República, explicando que ambas as medidas eram demandas que a presidente colheu junto aos próprios empresários nas reuniões que manteve com eles no ano passado. (...) Ao contrário do que pensava o governo, segundo essa mesma fonte, o que ocorreu foi uma queda do lucro financeiro das empresas, pela redução dos juros, e a recuperação de margem de lucro com a desoneração. Agora Dilma quer retomar, sob novas bases, a interlocução com o setor privado vislumbrando, também, um eventual segundo mandato”.

Autoria: A série “Brasil 1994/2014” é de autoria de José Prata Araújo, economista mineiro. Veja outros posts da série no site www.mariliacampos.com.br, seção “Brasil 1994/2014”. 
 
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