2.Minas é muitas. Queremos ampliar a pluralidade política e cultural e queremos uma Minas mais homogênea no plano econômico/social

12/07/2015 | Minas Gerais

Publicamos diversas tabelas com o PIB per capita e o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH do Brasil e de Minas Gerais, que mostram claramente porque os mineiros, nas eleições de 2014, se uniram aos nordestinos para eleger Dilma Rousseff e porque, na expressão de Kiko Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, “Minas livrou o Brasil de seu filho”. 

Minas Gerais é a terceira maior economia brasileira no tamanho do Produto Interno Bruto – PIB (R$ 403,551 bilhões, em 2012), ficando atrás apenas dos estados de São Paulo (R$ 1,409 trilhão) e Rio de Janeiro (R$ 504,221 bilhões). Mas no PIB per capita (PIB dividido pelo número de habitantes), principal indicador de riqueza da sociedade, nosso estado desaba, ocupando tão somente 10ª colocação, ficando atrás de Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul. Minas Gerais com PIB per capita de R$ 20.324,58 fica abaixo do indicador nacional de R$ 22.645,86, fica bem abaixo do PIB per capita do Sudeste – R$ 29.718,34 e é o penúltimo colocado, como vimos, dentre os 11 estados do Sudeste, Sul e Centro-Oeste, ficando à frente somente de Goiás. No Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que reúne indicadores de renda, longevidade e educação, a situação não é muito diferente: Minas Gerais ocupa a nona colocação dentre os diversos estados brasileiros, ficando atrás do Distrito Federal, São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Goiás. Veja as tabelas 1 e 2. 

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Minas é muitas, dizia Guimarães Rosa. De fato, do ponto de vista econômico e social, nosso estado é um dos mais desiguais do Brasil. Temos regiões com PIB per capita equiparados aos estados mais ricos da federação, bem como regiões com este mesmo indicador inferior aos estados mais pobres do Nordeste. O Triângulo Mineiro (R$ 28.215,42 de PIB per capita), região Central (R$ 25.825,97), Alto Paranaíba (R$ 22,859,46), Sul de Minas (R$ 18.881,42) se equiparam a diversos estados do Sudeste. Já o PIB per capita de outras regiões – Jequitinhonha / Mucuri (R$ 7.255,52), Norte de Minas (R$9.276,98) - é inferior ao do Nordeste (R$ 11.044,59) e se equipara a dos estados mais pobres daquela região – como Maranhão, Piauí e Alagoas. E mais: temos também desigualdades intra-regionais graves, como no caso de grandes cidades dormitórios da Grande BH. Esmeraldas (R$6.247,04), Ribeirão das Neves (R$ 7.242,03), Ibirité (R$ 8.472,61), têm PIB per capita inferiores a das regiões mais pobres de Minas, como Jequitinhonha / Mucuri e Norte de Minas, o que faz destas cidades enclaves de miséria em uma região rica como a Grande Belo Horizonte. E mesmo nas cidades mais ricas, como Belo Horizonte, Betim e Contagem, existem bairros e regiões de elevada exclusão social. Veja as tabelas 3 e 4. 

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O cientista político e professor da UFMG, Leonardo Avritzer, em um texto de 2010 como contribuição à chapa Hélio Costa / Patrus Ananias ao governo do Estado escreveu: “Minas são muitas”. A frase do poeta expressa uma característica fundamental do estado de Minas Gerais: sua diversidade cultural. Minas Gerais é um dos estados que tem a maior diversidade cultural no país, expressa pela sua condição de transição entre as regiões mais fortemente modernizadas e urbanizadas e as regiões um pouco mais tradicionais do país. Esta diversidade produziu hábitos culturais diferenciados, no folclore, nas artes e na música que despertam a atenção da população brasileira para fenômenos como bandas de música, folclore no Vale do Jequitinhonha e outras manifestações de diversidade. Mas, infelizmente a diversidade mineira tem sido entendida de forma diferente. Entre os grandes estados brasileiros com uma economia mais forte e uma sociedade mais urbanizada, Minas Gerais é o estado mais desigual. Esta desigualdade se expressa em índices como o IDH e sua variação nas diferentes regiões do estado. Em Minas, dados sobre pobreza apontam na mesma direção. Uma proposta de gestão popular participativa para Minas Gerais deve atacar tais elementos e, para fazê-lo, a participação social é o melhor instrumento.

Leonardo Avritzer concluiu com uma síntese brilhante: “Minas são muitas. O objetivo da participação no governo de Minas deve ser ampliar a diversidade onde ela é culturalmente desejável e diminuir a heterogeneidade onde ela é socialmente danosa”.

Autoria: A série sobre o diagnóstico econômico e social de Minas Gerais é de autoria de José Prata Araújo, economista mineiro. Veja outros posts da série no site www.mariliacampos.com.br, seção “Minas Gerais”.
 
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