A taxa de juros no Brasil é uma aberração. Veja as taxas de juros praticadas em 40 países do mundo

22/10/2016 | Cultura política

A seguir agregamos os países em torno de diversos critérios – países muito endividados, países com inflação alta, países neoliberais, países por blocos econômicos. Alguns dos países são agregados em mais de um critério. O Brasil não encaixa em nenhuma situação, porque no que se refere aos juros somos uma excrecência mundial. Os dados originais, sem os comentários que são de nossa autoria, são do site MoneYou e Infinity Asset Management. Veja a tabela abaixo, que mostra a taxa de juros reais (acima da inflação) em 40 países do mundo.

 

Juros em países com dívidas elevadas. Dizem que os juros são altos no Brasil porque nossa dívida pública bruta é muito elevada, de 70% do Produto Interno Bruto – PIB. A Grécia está quebrada, tem dívida de 178% do PIB e os juros reais são de apenas 0,10% ao ano. A Argentina tem dívida de 56% do PIB e os juros são negativos de -5,00%. O Japão tem dívida bruta de 248% do PIB e os juros são de -0,10%. Os Estados Unidos tem dívida bruta de 106% do PIB e os juros são negativos de -1,68%. O que está deixando, de fato, a dívida brasileira desgovernada é a taxa de juros, que multiplica a dívida e desaquece a economia com reduções fortes nas receitas.

 

Juros em países com inflação elevada. Outro argumento para os juros altos é a inflação elevada. Países com fortes pressões inflacionárias não tem optado pelo rigor na política monetária. De novo citamos a Argentina, governada por Maurício Macri, um dos queridinhos do mercado; lá a inflação está na casa de 40% e os juros são negativos de -5,00%. Se nossos “especialistas” estivessem a frente do governo da Argentina, a taxa de juros nominal seria de 60% a 80% e não de 28,25% como é atualmente. Juros é uma arma contra a inflação quando existe pressão de demanda, aqui o “consumo das famílias” está ladeira abaixo faz tempo.

 

Juros reais nos países dos BRICS. Nos chamados “BRICS”, o Brasil tem taxa de juros reais de 7,63%; Rússia, 2,98%; China, 2,30%; Índia, 1,53%; África do Sul, 0,38%.

 

Juros nos países neoliberais. O diagnóstico praticamente consensual na esquerda brasileira é que os juros de nosso país são elevados – 7,63% ao ano -por causa do neoliberalismo. Não é bem assim. Veja os juros nos países mais ricos com tradição liberal: Estados Unidos, -1,68% ao ano; Japão, -0,10% ao ano; Reino Unido, -1,52% ao ano. Nos países da América Latina, os países com predomínio liberal praticam as seguintes taxas de juros: Argentina, -5%; Chile, -0,48%; Colômbia, 0,51%; México, 1,31%. O sociólogo José Luiz Fiori, há dois anos, fez uma crítica devastadora à esquerda brasileira afirmando que ela busca de diferenciar da direita e se divide internamente em torno da política macroeconômica, e não em torno da igualdade social, objetivo histórico de toda esquerda seja ela mais radical ou mais moderada.

 

Taxas de juros entre nossos colonizadores. Uma das teses absurdas para explicar os problemas do Brasil é que sofremos do “pecado original” da colonização portuguesa. Pois bem, em Portugal a taxa de juros é de -0,60% ao ano. Portanto, esta herança rentista é uma marca nacional e os juros altos são uma espécie de “direito adquirido” que a elite dominante não abre mão.

 

Valor Econômico: Dilma sofreu o golpe por reduziu os juros para 7,25%

O jornal Valor Econômico, de 15/04/2016, numa longa reportagem de seis páginas do caderno EU&FIM DE SEMANA, de Denise Neumann, contou os bastidores empresariais do golpe contra Dilma Rousseff, iniciado de forma mais articulada e decisiva a partir de 2012/2013. Diz a reportagem do jornal Valor Econômico: “A corrupção aparece entre as críticas dos empresários, mas não como uma marca da presidente. Ela é vista como honesta, mas eles acham que seu erro foi ser complacente com os desmandos feitos na Petrobras”.(...) “Embora a personalidade de Dilma tenha contribuído para o distanciamento, são nas ações do governo que os empresários identificam momentos decisivos para o ‘divórcio’. O primeiro foi a campanha pela redução do spread bancário e o corte acentuado da taxa Selic, que entre agosto de 2011 e outubro de 2012 recuou expressivos 5,25 pontos percentuais. Enquanto os juros caíam, a aprovação da presidente subia - foi de 48% de ótimo e bom para 64% ao longo desse período”.(...) "Os empresários se voltam contra o governo quando acaba o dinheiro. Isso não é ideológico. Eles mudam mesmo de lado quando acabam as benesses. Simples assim. A Dilma assinou o seu destino quando quis reduzir os juros e o spread bancário. Foi ali que começou. A indústria já estava sofrendo, mas é quando ela mexe com os bancos que a campanha contra ela começa’, avalia uma empresária”.

 

 Como vimos nos exemplos anteriores, os juros são altos no Brasil não por razões econômicas nem mesmo ideológicas. Nos juros somos uma excrescência mundial, que serve de motivo até para golpes político-parlamentares. Os juros estratosféricos praticados no Brasil aumentam os gastos com a dívida e limitam os investimentos públicos e a aceleração da melhoria dos serviços públicos; valorizam o câmbio, enfraquecem a balança comercial e levam a desindustrialização, e, acima de tudo, desestimulam os investimentos porque se ganha muito mais com as aplicações seguras no mercado financeiro do que nos arriscados negócios produtivos.

txjurosmundo1.png