Breno Altman: “Aliança em três etapas”

17/11/2017 | Política

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Brasil 247 – 08/11/2017

1a etapa

Para ir ao segundo turno, caso um golpe dentro do golpe não o interdite, o ex-presidente Lula não precisa de nenhuma aliança fora do campo de esquerda. Nem nacionalmente nem nos estados.

Ao contrário: mais força teria, a meu juízo, se não as fizesse. Quanto mais clara a identidade político-ideológica de sua candidatura no primeiro turno, quando mais demarcada estiver sua fórmula em relação ao golpismo e à agenda liberal, maiores serão o entusiasmo e a mobilização de seu eleitorado.

Claro, certos acordos regionais, com personalidades francamente à esquerda, como o caso de Roberto Requião ou Ricardo Coutinho, embora filiados a partidos golpistas, seriam exceções a confirmar uma boa orientação nacional.

De quebra, essa lógica permitiria a Lula pedir claramente o voto em deputados e senadores do PT e eventuais outras legendas progressistas, sem dissipar sua popularidade, nas eleições parlamentares, em candidatos fora do campo progressista, como ocorreu em pleitos passados.

2a etapa

No segundo turno, como as alianças são negativas, pois quem fica de fora escolhe quem considera ser o mal maior entre os dois finalistas, o ex-presidente e o PT fariam um acordo tático com quem se dispusesse a marchar junto, negociando um pacto programático e de governo com forças mais ao centro (o maior exemplo seria Ciro Gomes) ou supostamente à esquerda do petismo, como o PSOL.

3a etapa

Vitorioso, o ex-presidente Lula constituiria um governo das forças populares e democráticas, do campo antigolpista, pluripartidário e aberto a lideranças sem-partido, operando caso a caso no parlamento, como ele próprio já anunciou como hipótese, constituindo alianças táticas e pontuais a partir do debate público e da mobilização social.

Seria uma operação dificílima, tensa e perigosa, mas não há outra hipótese: o deslocamento do centro para a direita corresponde a um movimento estratégico do capital e seus agentes, cuja inversão depende da esquerda demonstrar força social, firmeza política, clareza programática, com amplitude e determinação. Salvo se a opção for capitular programaticamente ao liberalismo e se submeter às pressões do capital financeiro... nesse caso, como diria Churchill e já aconteceu no segundo governo Dilma, se entregaria a honra para evitar a guerra, mas a honra seria perdida e guerra haveria...

Para resumir minha modesta opinião tática:

Frente Popular no primeiro turno.

Frente Ampla no segundo turno.

Frente Ampla sob hegemonia de esquerda no governo.

Breno Altman é jornalista, diretor do site Opera Mundi e da revista Samuel.