Carlos Lindenberg: “Anastasia anima tucanos, mas não tira favoritismo de Pimentel”

27/03/2018 | Minas Gerais

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Brasil 247 – 21/03/2018

A decisão do senador Antônio Anastasia de voltar a disputar o governo de Minas Gerais, nas eleições de outubro, revela que ele não suportou a pressão que vinha sofrendo das bancadas do PSDB, tanto na Câmara Federal como na Assembleia Legislativa, além dos apelos do governador paulista Geraldo Alckmin, ensandecido para ter um palanque em Minas, o segundo maior colégio eleitor do país.

Essa decisão mudou radicalmente o quadro eleitoral mineiro, até então marcado, de um lado pelo grupo do governador Fernando Pimentel, líder nas pesquisas, e do outro por vários possíveis candidatos, nenhum deles capaz de ameaçar o favorito. Assim, a entrada de Anastasia no embate, ele que jurava não voltar a disputar o governo do Estado, pelo qual passou de 2010 a 2014, provocou de imediato dois movimentos: o primeiro fez com que nomes de seu antigo grupo, como o ex-governador Alberto Pinto Coelho, fizessem a meia-volta e retornassem ao ninho antigo e em segundo plano isolou os candidatos que corriam soltos, Márcio Lacerda(PSB) e Rodrigo Pacheco(DEM). o primeiro ex-prefeito de Belo Horizonte e o segundo deputado federal de primeiro mandato, mas que disputou a prefeitura da capital em 2016 e ocupa hoje a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, por onde passou sobranceiro Michel Temer com suas manobras financeiras de emendas parlamentares para livrar-se das duas denúncias do então Procurador Geral da República, Rodrigo Janot – o que não o fez escapar de novas investigações do Supremo Tribunal Federal.

O fato é que a entrada de Anastasia em cena, o autor do relatório que levou ao impeachment previamente desenhado da presidente eleita Dilma Rousseff – animou os tucanos mineiros que ameaçavam até mesmo debandar para outros partidos diante de uma suposta ausência de palanque e de alguém que pudesse aparecer como puxador de votos. Foi assim que as bancadas estadual e federal, além de Alckmin, pressionaram o ex-governador e atual senador da República, colocando em suas mãos a responsabilidade, caso não aceitasse a incumbência, de ser responsável até mesmo pelo fim do PSDB no Estado – e Alckmin, o que seria dele?

De forma que o xadrez eleitoral mineiro começa a se formar efetivamente, ainda que Anastasia tenha se preservado para só anunciar sua decisão após voltar da viagem que começou nesta quarta-feira à Suíça. Até agora, o que se tem de fato é a candidatura do ex-prefeito Márcio Lacerda, do deputado Rodrigo Pacheco, do ex-secretário de Educação do governo Eduardo Azeredo, João Batista Mares Guia(Rede) e do governador Fernando Pimentel, que se destaca como favorito, além de Antônio Anastasia. É evidente que a entrada do senador em campo pode alterar um pouco a correlação de forças, até porque, como diziam políticos mineiros, o campo de centro-esquerda está bem estruturado, firmando-se na aliança (PT-MDB) enquanto a oposição sequer sabia exatamente em torno de quem poderia reunir-se. Mas se é evidente que Anastasia dá mais musculatura à oposição é óbvio que também enfraquece as candidaturas de Márcio Lacerda e de Rodrigo Pacheco. Na verdade, com Anastasia, é de imaginar que os outros dois candidatos vão ter que rever as suas estratégias, tanto para o primeiro como para o segundo turno, se houver.

Mas se Anastasia é uma solução, o senador Aécio Neves passa a ser o problema para o PSDB. Não é confiável a informação das últimas horas que Aécio teria desistido de candidatar-se até mesmo à Câmara dos Deputados. Neste momento, o senador que provocou a queda da presidente Dilma e que arrastou o País para a grande crise dos últimos 30 anos, é ainda pré-candidato ao Senado, até porque entre todos os nomes citados para a posição ele continua na frente com dez ou onze por cento dos votos – longe, no entanto, dos 50 ou 60 por cento que ostentava quando tinha o controle da política mineira. Ocorre que para aceitar a responsabilidade de voltar a disputar o governo de Minas, Anastasia teria feito uma série de exigências – ate mesmo porque a sua vontade era de ser candidato a vice na chapa de Geraldo Alckmin – entre elas a de ser o formulador de sua chapa, escolhendo nomes e buscando ele mesmo a sua equipe de marketing e comunicação, de tal forma que – coisa nunca imaginada antes em Minas durante o domínio dos Neves- caberá unicamente ao candidato a busca de nomes, por exemplo, para o Senado que não será o de Aécio Neves. E o que seria do ex-governador e atual senador? É cedo dizer que Aécio desistiu de ser candidato a qualquer cargo em outubro. Dificilmente concorrerá ao Senado, para não prejudicar a chapa que Anastasia quer montar, com nomes como o de Marcos Montes, deputado do DEM de Uberaba, ou do ex-presidente da Assembleia, Dinis Pinheiro, que voltou ao ninho tucano com o PSD a tiracolo. Mas Aécio poderá deixar de disputar? É uma hipótese, mas não uma certeza.

Seus ex-auxiliares, por exemplo, acham que ele deveria disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, pela qual poderia vir a ser eleito com expressiva votação, sem sequer sair de casa, graças a um cálculo simples: se obtiver 150 votos em cada um dos 853 municípios mineiros, o que não seria difícil, segundo seus correligionários em Minas – sim eles ainda os tem – Aécio seria eleito com no mínimo 128 mil votos em números redondos. Mas há também a hipótese de Aécio não disputar nada e correr o risco calculado de vir a ser processado sem a prerrogativa de foro, com o que poderia até sair no lucro por que, neste caso, seus processos viriam para a primeira instância, em Minas Gerais, e aqui andariam bem menos rápido do que se estivessem no Supremo Tribunal Federal – de vez que as acusações que lhe são atribuídas, entre elas a de possíveis desvios na construção da Cidade Administrativa ou o caso do Joesley Batista, em que teria pedido propina de dois milhões de reais, estão localizadas em Minas Gerais e não em Curitiba, por exemplo. De qualquer forma, a decisão que irá tomar Aécio só anunciará em agosto, na undécima hora, isto é, no dia do prazo fatal.

Carlos Lindenberg é jornalista, diretor do 247 em Minas.