Emiliano José responde a Wanderley Guilherme: “O destino de Lula é a presidência”

09/05/2018 | Política

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Conversa Afiada – 07/05/2018

Não, professor Wanderley Guilherme dos Santos, e digo professor com toda a força que a palavra tem, com o respeito que merece, o PT não quer o “Lula ou nada”. Seu texto parece uma quase-chantagem ao partido, como se fosse ele obrigado, não se sabe por que, a abrir mão da disputa das eleições de 2018, da luta para ter Lula livre, do direito de Lula ser candidato. O PT faz isso em nome da inocência de um prisioneiro político e do nome mais forte para tal disputa. Respondo a quente, como convém nessa conjuntura de tanta velocidade, com tantos acentos de imprevisibilidade. O seu texto reclama isso, porque injusto com o partido e com o presidente. Não falo à distância, como observador neutro. Tenho lado, como você, todos têm. E Lula carrega consigo enorme, inegável responsabilidade histórica, e não cuida apenas de seu destino pessoal. Fosse assim, e poderia ter ido embora do País, exilar-se e conscientemente não o fez.

Não ousaria lembrá-lo mais extensivamente da luta de tantas lideranças que presas, ao longo da história, souberam honrar suas trajetórias, e corresponder à confiança e esperança nelas depositadas. Não é necessário. Fosse por um argumento, que um raciocínio frio poderia denominar de sentimental, que partido abandonaria sua principal liderança, de longe principal liderança do povo brasileiro, às traças, jogado numa prisão, um prisioneiro político, como se pudesse ser descartado assim, sem mais? Não é esse o principal argumento, nem deve ser, embora ele nos assalte a vista de seu texto, porque isso corresponderia evidentemente a um abandono.

Não é disso que se trata, no entanto. A questão central é que tentam impor que a principal esperança do povo brasileiro, a liderança que encarna o sonho de resgatar a democracia, barrar a monumental retirada de direitos, barrar o fim de nossa soberania, tentam impor, pelo arbítrio, com o Estado de Exceção vigente, que se mate a esperança de tanta gente. É, abandonar Lula no cárcere, o líder de todas as pesquisas, é exatamente matar a esperança dos pobres, dos excluídos, dos tantos milhões a quem as políticas desenvolvidas por ele permitiram a chegada à condição de cidadãos. O povo brasileiro tem o direito de tê-lo como candidato, livre. E o PT tem o dever de levar essa luta às últimas consequências, e não por qualquer capricho, mas porque não o fazendo frustra os que o dão vencendo as eleições em qualquer situação, em repetidas pesquisas.

Deveria o PT abaixar a cabeça, dizer sim ao arbítrio? Não, não seria digno, e, sobretudo, não corresponderia àquilo que está no coração de nossa gente. Discutindo por outro ângulo, para caminhar no raciocínio desenvolvido pelo professor, algumas indagações me vêm. O PT é de longe o partido mais bem avaliado do povo brasileiro – é isso mesmo, as pesquisas recentes estão à disposição. Tem, insista-se, o candidato mais forte para a disputa, não obstante, e por causa disso, preso. O povo reconhece sua inocência. Que argumentos o PT teria para abrir mão da candidatura? Por que não esgotar todas as possibilidades, e a política é o território dos milagres, disso o professor sabe, para que ele venha a ser o candidato? Ele não foi preso por acaso, mas exatamente para tentar evitar sua participação na disputa. E o PT não pode e não dever ser o cordeiro que caminha de cabeça baixa para a imolação.

Além disso, admita-se cheguemos a uma situação-limite em que o arbítrio vença, e ele não possa ser candidato. Que razão teria o principal partido da esquerda, que tem dado mostras seguidas de amplitude, de política de alianças, de solidariedade com candidaturas do campo progressista, para deixar de ofertar outro nome do próprio partido, fosse o caso, alguns deles com enorme potencial, que obviamente poderiam crescer mais e mais com o apoio de Lula? Não, não se trata de qualquer sectarismo. O argumento de tantos, com a existência de primeiro e segundo turnos, vale também para o PT, e nós não podemos ser cobrados por não tentar. Não se acuse, porque injusto, o partido de ser intolerante com outras candidaturas, nem de agredi-las.

A direção do partido tem sido cuidadosa diante, de manifestações que não carregam o selo da unidade, às vezes agressivas, arrogantes e desrespeitosas . O partido tem sabido, corresponder às necessidades de unidade do campo democrático, popular, de esquerda e progressista. Não se desespera no momento da dificuldade, não deve desesperar, que destino a gente constrói, não espera acontecer. Não abandona seu líder. Não deixa de participar dos esforços, e já são consideráveis, para a construção de um programa comum. Estamos construindo a unidade. Lula pode ser libertado com a luta do nosso povo e alguns candidatos à presidência, de esquerda, dignamente, estão nessa luta. Lula será candidato para agregar forças para o resgate da democracia, para o início de uma nova fase em nossa história, tão agredida pelo golpe de abril de 2016. Se não o for, o PT manterá sua solidariedade a ele, a vida segue, e saberá continuar no caminho que derrote os golpistas e o Estado de Exceção implantado no País.

Emiliano José é jornalista, professor e deputado federal pelo PT da Bahia.