Foram 7 milhões de jovens pensando sobre a violência contra a mulher no Brasil. Um grande avanço do ENEM

29/10/2015 | Políticas de igualdade

Especialistas em educação ouvidos por diferentes veículos de comunicação aprovaram o tema “A persistência da violência contra a mulher”, adotado na prova de redação do Enem 2015.

Para a professora Maria Aparecida Custódio, do Curso e Colégio Objetivo, a escolha é muito boa uma vez que é um assunto importante, sobre o qual os candidatos precisam saber se posicionar e com o qual eles estão familiarizados. "É da maior pertinência, uma vez que ainda vivemos em uma sociedade patriarcal e machista", declarou a professora ao UOL Educação.

Em Belo Horizonte, o diretor do colégio Bernoulli Rommel Domingos, também aprovou o tema. “Infelizmente, esse tema da violência contra a mulher ainda é atual. A gente vê casos e casos de mulheres assassinadas e sabemos da violência com pessoas próximas. A escolha do tema foi pertinente”, afirmou ao jornal O Tempo.

Para o professor e coordenador de Português do Dinatos COC, Patric Moreira, ao abordar questões de gênero, o tema da redação do Enem mostrou coerência com os conteúdos cobrados dos estudantes. “É um assunto muito em voga. Todo mundo vem falando muito desse tema, inclusive de pensar em igualdade de gêneros. O candidato poderá abordar isso e também refletir por que a mulher ainda sofre tanta discriminação, chegando inclusive a casos de violência”, disse Moreira em entrevista à Agência Brasil.

O tema foi, de fato, muito oportuno para os jovens discutirem – ainda mais considerando os índices de violência contra a mulher no Brasil. O Ministério da Justiça divulgou, na semana passada, dados sobre homicídios e mortes de mulheres por agressão. Os números são alarmantes. A taxa de morte violenta de mulheres no Brasil é de cerca de 10% do total de homicídios dolosos. A maioria dos óbitos estão relacionados à violência doméstica e intrafamiliar e os autores são, em geral, seus parceiros ou ex-parceiros íntimos.

Além de bem elaborada, a proposta subsidiada com dados sobre a violência contra a mulher, inclusive o número de homicídios. O candidato teve quatro conteúdos de apoio. Um deles era um cartaz de uma campanha contra o feminicídio. Também havia um gráfico com dados sobre o tipo de violência cometida contra mulheres, baseado em informações do Disque 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Também havia uma reportagem que abordava o impacto da Lei da Maria da Penha e dados estatísticos do Mapa da Violência.

Ao abordar este tema, o Ministério da Educação (MEC) deu uma contribuição importante para a ampliação desse debate na sociedade e, ao contrário de algumas edições anteriores, também se posicionou de modo contrário à violência. “É como se o Enem convocasse 7 milhões de estudantes para discutirem uma questão, e uma questão social pertinente como a violência da mulher. Acredito que foi uma escolha muito feliz do tema porque ainda não conseguimos vencer essa chaga tão horrorosa”, resumiu a professora Cida, do Colégio Objetivo.

Nas redes sociais, muitos usuários comemoraram que o Enem tenha trazido o problema da violência de gênero para a reflexão: “7 milhões de jovens pensando sobre a violência contra a mulher no Brasil. Obrigada, Enem", postou uma internauta.

Houve, é claro, quem criticasse, como é o usual nas redes. De toda forma, a simples presença do tema esquentou o debate sobre a questão de gênero no Brasil.

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