Jornal O Tempo: “Emissão de CO2 dispara, e BH teme descontrole da poluição”

27/06/2016 | Meio ambiente

Índice de gás carbônico por habitante na capital mineira já é maior do que em São Paulo

Bárbara Ferreira

Jornal O Tempo – 27/06/2016

Nos últimos 14 anos, a emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE) quase dobrou em Belo Horizonte, superando o índice per capita registrado em São Paulo, uma das cidades mais poluídas do país. Caso não haja nenhuma medida para a mitigação desses poluentes, esse número pode aumentar mais 35% até 2030. Com isso, o nível de poluição na capital mineira passaria de 1,76 toneladas de gás carbônico por habitante (tCO2/hab) para 2,4 tCO2/hab, valor semelhante ao da Cidade do México, que tem 2,6 tCO2/hab, e Rio de Janeiro, que possui 2,3 tCO2/hab. São Paulo hoje registra 1,4 tCO2/hab. Os números são dos Inventários de Emissão de Gases produzidos por cada cidade.

No momento, Belo Horizonte ainda emite gases poluentes dentro do previsto pelo padrão internacional: até 2 tCO2/hab. O crescimento da poluição, no entanto, preocupa poder público e especialistas, que temem que a cidade alcance níveis como os da Europa e dos Estados Unidos, extremamente nocivos. Além de prejudicar o meio ambiente, esses gases geram problemas de saúde na população e até doenças graves como o câncer.

De acordo com o ambientalista e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) David Zee, existe um desequilíbrio na produção de gases no planeta, pois muitos são lançados pelo homem na atmosfera. “Já vemos problemas com isso em São Paulo. Acontece muito na China, onde a matriz energética é muito dependente do carvão e do petróleo. Isso polui o ar, primeiramente. Há uma mistura da umidade do ar com o CO2, produzindo o ácido carbônico. Ele chega a causar ardência nos olhos”, detalha o especialista, ressaltando que os GEE também são os principais causadores do chamado aquecimento global. Os mesmos problemas se repetem em todos os lugares do mundo.

O coordenador de oncologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, André Murad, afirma que os gases têm sido um dos principais causadores de câncer de pulmão. As temperaturas mais altas também trazem danos indiretos, como o aumento de doenças que dependem de determinadas situações climáticas, como o frio, e o impacto nas estações do ano, o que causa secas e enchentes, ambas influenciadas pelos GEE.

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Plano cria esforços para conter problema

Prevendo o aumento da poluição a partir de seu Inventário da Emissão de Gases, revisado pela última vez em 2013, a Prefeitura de Belo Horizonte formulou o Plano de Redução de Gases do Efeito Estufa, com uma série de propostas para ajudar a reduzir os poluentes. A maioria das medidas está ligada à área de transportes, principal poluidora.

O potencial de redução de poluentes de cada proposta foi avaliado pela prefeitura, além de seu benefício e custo social. Elas estão inseridas no contexto do Plano Estratégico BH 2030, com várias metas para a gestão da cidade cumprir, mas, para que se tornem realidade, é preciso que haja esforços de outros departamentos, como a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) e a Secretaria de Planejamento Urbano.

Especialistas em meio ambiente, setores da prefeitura e sociedade civil se reúnem em um comitê para pensar a política conjuntamente. (BF)

Transporte é o que mais polui 

Entre os principais emissores de Gases do Efeito Estufa (GEE) em Belo Horizonte estão os veículos automotores –, carros, ônibus, caminhões e aeronaves – que juntos são responsáveis por 71% dos poluentes. A preponderância de um modal rodoviário no sistema de transporte da cidade, como alerta o Plano de Redução de Emissão dos Gases de Efeito Estufa (PREGEE) desenvolvido pela prefeitura, faz com que os combustíveis empregados na frota tenham um papel central na emissão dos poluentes.

Somente a gasolina é responsável por mais de 50% das emissões da capital. Por isso, as medidas adotadas pelo Executivo municipal para reduzir a poluição dependem de outro importante projeto: o Plano de Mobilidade Urbana (PlanMob BH). A proposta prevê um cenário de mudanças drásticas para 2020, com investimentos em transporte público.

O PlanMob BH tem como carro chefe o Move, sistema implantado em 2014 e que deveria atrair mais pessoas para o transporte público. Mas, como O TEMPO mostrou no início do mês, de 2012 para 2015 a demanda pelo sistema de ônibus do município caiu 3%.

Já o PREGEE é focado principalmente nos automotores, estabelecendo metas como redução do uso do carro, incentivo ao transporte público e restrição de veículos na área central da cidade. Há ainda o objetivo de incentivar o uso de energias mais limpas, como a solar para residências, comércios e indústrias. Segundo o plano, já há o comprometimento com ações que podem reduzir 17% das emissões em Belo Horizonte caso o PlanMob BH se concretize.

Embora esteja pronto e em constante atualização, o PREGEE depende de outras ações da prefeitura, que vão desde o PlanMob a projetos da Secretaria de Planejamento Urbano.

Alternativa. Ter um sistema de transporte que seja atrativo e que faça as pessoas migrarem do carro para o sistema coletivo é o maior desafio para o controle da emissão de gases. “É preciso haver um sistema em que as pessoas consigam andar de ônibus e que seja mais conveniente do que o carro. Uma forma é criar facilidades para os ônibus. Outra alternativa é criar dificuldades para os carros. Não cabe todo mundo, é preciso trocar o espaço do carro por ônibus”, aponta o especialista em transporte e trânsito Osias Baptista.

Outra questão importante são os investimentos em combustíveis e modais alternativos, com o metrô e as bicicletas. “Temos que investir mais em carros elétricos, hidrogênicos (movidos a hidrogênio). Temos que ter outras alternativas que não a gasolina”, conclui.