Por que empresas públicas e privadas desabaram nas bolsas: Gerdau (-95,77%), Vale (-86,99%) e Petrobras (-85,5%)?

18/02/2016 | Economia

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A tabela acima desfaz muitos mitos. Mitos criados pela análise politizada e ideologizada que se faz no Brasil sobre a crise das grandes empresas. Fala-se que a Petrobras foi destruída pelo governo do PT, quando teve perdas recentes de -85,5%. Quem destruiu então a Vale privada, que teve perdas de -86,99%? E a Gerdau, com perdas de -95,77%,  do empresário Jorge Gerdau Johannpeter, que se notabilizou pela “forte atuação na busca pela eficiência e qualidade da gestão nos setores público e privado”. Quem destruiu a Usiminas privada, que está vivendo uma crise histórica? O provincianismo da discussão da política econômica no Brasil não consegue explicar nada da crise de grandes empresas não somente aqui, mas em todo o mundo.

O Presidente do Bradesco Luiz Carlos Trabuco afirma que “solvência e liquidez do mundo corporativo são duas palavras-chaves” para se entender a crise atual. Diz ele: “A volatilidade em razão da China vai continuar e a estabilização das Bolsas, dos preços dos ativos e das commodities vai ser no fundo do poço. Houve uma mudança de patamar, de modelo na China”.(...) “Vai piorar porque a China vai comprar menos e a um preço mais baixo. Na hora do ajuste, isso pode doer mais às suas empresas e ao mundo, pelo peso que a China tem”.(...) Entramos num túnel de grande ajuste. O preço do petróleo está tendo e vai ter um impacto muito mais explosivo do que a desaceleração chinesa. Caiu de US$ 110, US$ 120 para US$ 30. Algumas casas diziam há dias que pode chegar a US$ 20, e aqui ouvi que pode ir a US$ 10. Isso poderá ter impacto também no sistema bancário. Imagine o Canadá, onde o setor é fundamental. Como ficará a indústria do etanol? A do shale gas [gás de xisto]? A Petrobras é ainda mais afetada [que outras companhias], pelos outros problemas que tem. O problema do petróleo bate no risco de crédito das empresas e dos países no mundo todo”.(...) “A crise macroeconômica mundial de commodities pega o Brasil, as corporações brasileiras, mas não sou pessimista quanto à capacidade das empresas de superarem esses desafios. Mas através de margem menor, lucros menores. Então, a solvência e liquidez do mundo corporativo são duas palavras-chave. A crise atual é uma crise diferente da de 2008. É mais do valor dos ativos”. 

Preço do minério de ferro recuou de US 191 para US$ 40 a tonelada

O presidente do Bradesco não falou da redução dramática da cotação do minério de ferro no mercado internacional, que atinge em cheio a Vale. A tonelada do minério de ferro, puxado pela demanda chinesa, atingiu em 2011 a estratosférica cotação de US$ 191, e de lá para cá foi ao fundo do poço cotada a US$ 40.  Portanto, a Vale privada se agigantou menos pela “gestão eficiente” e mais em função da disparada dos preços das commodities, como no caso do minério de ferro, no mercado internacional puxada pelo “milagre chinês”. A Vale divulgou, em 2009, números sobre a sua produção e lucratividade no período do boom do minério que explica o que estamos dizendo. Segundo dados da própria Vale, no período de 2003 a 2008, a produção de minério de ferro, principal produto da empresa, aumentou 60%, passando de 188,3 para 301,6 milhões de toneladas métricas. A receita bruta passou de US$ 5,545 bilhões para US$ 38,509 bilhões, uma evolução de 595%. O lucro da Vale, com a explosão dos preços no mercado internacional, subiu, no mesmo período, 753%, passando de US$ 1,548 bilhão em 2003, para US$ 13,218 bilhões em 2008. Assim, os números indicam claramente que a lucratividade da Vale está ligada, acima de tudo, ao comportamento da economia internacional (aumentos do consumo e principalmente dos preços), e não à suposta genialidade de seus dirigentes e controladores. A Vale foi comprada na baixa; durante um longo período de boom da mineração seus lucros trimestrais superavam o seu valor de compra; a empresa foi favorecida pela Lei Kandir com a desoneração das exportações; mas agora enfrenta uma enorme crise. Os lucros foram privatizados, e agora não podemos aceitar que os prejuízos sejam socializados, como no caso da indenização do desastre da Samarco de R$ 20 bilhões, de fato um valor muito alto para uma empresa que tem valor de mercado de apenas R$ 41,9 bilhões. 

Endividamento em dólares das empresas é uma ameaça aos bancos 

Em matéria do Valor Econômico o economista Desmond Lachman vê um risco "de pelo menos 50%" de que a economia global entre em recessão entre meados deste ano e meados do ano que vem, ressaltando a desaceleração da China e as dificuldade de outros emergentes, como o Brasil e a Rússia. Pesquisador do centro de estudos American Enterprise Institute (AEI), ele destaca a explosão no endividamento das empresas de países em desenvolvimento, que subiu da casa de US$ 10 trilhões para US$ 20 trilhões num espaço de quatro a cinco anos, estimulado pelo longo período de política monetária americana ultraexpansionista. É em função do risco corporativo, na grande maioria de empresas privadas, e da ameaça de uma recessão mundial que as ações dos bancos, sobretudo europeus, vem tendo enormes perdas nas Bolsas de Valores. 

Em resumo: a queda dramática do valor das commodities – petróleo, minério de ferro e outros produtos – fez desabar o faturamento de empresas de todos os países que atuam nesta área, a desaceleração e até uma recessão mundial complica ainda mais a vida das empresas e a dolarização fez disparar as dívidas quase sempre contraídas em dólares. Estes são os principais problemas das empresas privadas como a Vale e também de empresas públicas como a Petrobras, que, de fato, teve a situação agravada pelas irregularidades cometidas na empresa.