Prefeitura de Seul, na Coréia do Sul, descanaliza rio, despolui os córregos e cria parque linear. Uma obra-prima urbanística!

13/03/2016 | Meio ambiente

Planeta Inteligente / Site Cidade de Ribeirão Preto

 

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Rio Cheonggyecheon, em Seul, na Coréia do Sul, após ser recuperado pela prefeitura

 

A revitalização de um rio de Seul, na Coréia do Sul, mudou a paisagem a tal ponto que as imagens de antes e depois parecem falsas. Quem vê a água limpa descendo pelo rio Cheonggyecheon, em Seul, na Coréia do Sul, e pode usufruir das áreas verdes que tornaram o centro de cidade mais agradável, não imagina que, até há alguns anos atrás, aquela era apenas mais uma zona urbana degradada, a exemplo de tantas outras pelo mundo afora.

Para garantir a recuperação ambiental, a prefeitura local tomou decisões radicais, incluindo a demolição de um viaduto que cobria esse canal urbano totalmente poluído. Cerca de 620 mil toneladas de concreto foram ao chão e investimentos de US$ 380 milhões tornaram realidade o que parecia impossível: assegurar a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos a partir da paisagem restaurada.

 

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Rio Cheonggyecheon, em Seul, na Coréia do Sul, antes da demolição do viaduto que cobria o canal

 

A recuperação do rio Cheonggyecheon é considerada uma referência mundial em humanização de cidades, não só pela despoluição das águas mas pela construção de parques lineares que devolveram o contato das margens aos moradores, que é a sétima maior do mundo em número de habitantes e tem 10,3 milhões de pessoas.

O concreto do viaduto derrubado foi reciclado, e as obras de recuperação, iniciadas em meados de 2003. Três anos depois, parte do canal de 80 metros de largura foi aberto ao público e, mais tarde, o projeto foi concluído, com a entrega aos moradores de áreas verdes que totalizam 400 hectares, distribuídas ao longo de oito quilômetros de extensão.

Para facilitar o acesso ao local, além da construção de novas pontes, o sistema de transporte coletivo foi ampliado, o que significou uma redução no número de veículos nos arredores. As interferências urbanísticas e as obras de melhoria ambiental fizeram a temperatura na área do canal cair em média 3,6°C em relação a outras regiões da cidade.

O arquiteto urbanista Clodualdo Pinheiro Júnior, diretor de Desenvolvimento da empresa municipal Urbanização de Curitiba (URBS), visitou Seul, há algum tempo atrás, e ficou impressionado com a experiência de recuperação do rio Cheonggyecheon. Nos dias mais quentes, as pessoas molham os pés na água.

É um belo exemplo de melhoria da qualidade de vida da população, diz o arquiteto. Ele conta que para realizar o projeto e demolir o viaduto por onde passavam aproximadamente 160 mil automóveis por dia, a prefeitura de Seul enfrentou resistências, sobretudo de comerciantes, que foram realocados. Símbolo da expansão urbana e da busca por soluções para dar conta do incremento do tráfego no centro da cidade, aquela estrutura de concreto, com seis pistas de alta velocidade, havia coberto totalmente o antigo canal onde as mulheres lavavam roupas havia mais de 50 anos.

Sem viaduto e com menos trânsito

A polêmica obra da prefeitura de Seul começou em 1999. O prefeito na época, Lee Myung Bak, foi o responsável pela mobilização para despoluir o canal, demolir o viaduto e criar os parques lineares. Para tocar a empreitada foi chamado o urbanista Kee Yeon Hwang, que, após várias consultas à população, desenvolveu o projeto de recuperação ambiental e urbanística. A equipe dele também passou mais de seis meses investigando alternativas para melhorar o tráfego.

De acordo com Pinheiro Júnior, o poder público local optou por construir um semi-anel viário para desviar o tráfego da área do antigo viaduto. A cidade agora respira mais e o pedestre pode vê-la melhor, diz ele. Para o urbanista, Seul conseguiu uma proeza que parece impossível para outras metrópoles mundiais, entre as quais São Paulo.

Na capital sul-coreana, por onde circulam 2,8 milhões de automóveis, o sistema de ônibus transporta 25% dos passageiros da cidade, enquanto o metrô faz 35% dos deslocamentos. Seul se inspirou no nosso projeto de vias segregadas, conta o urbanista Clodualdo Pinheiro Júnior. Essas pistas, exclusivas para ônibus, começaram a tomar forma em 1974 e transformaram Curitiba em referência de cidade que melhorou a infra-estrutura viária para dar vazão ao transporte de massa.