Tereza Cruvinel: “A raia do centro será de Alckmin. Mas, candidato, ele abraçará Temer?”

01/12/2017 | Política

A raia do centro será de Alckmin. Mas, candidato, ele abraçará Temer?

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Brasil 247 – 27/11/2017

Geraldo Alckmin, apesar do mau desempenho nas pesquisas, será o candidato presidencial tucano. No dia em que Luciano Huck anunciou que não será candidato, deixando livre a raia do centro na disputa hoje polarizada entre Lula e Bolsonaro,  ele foi praticamente ungido presidente do PSDB e candidato do partido no jantar com barões tucanos no Palácio dos Bandeirantes.  Com Tasso Jereissati e Marcone Perilo desistindo da disputa interna em seu favor, ele agora pode ser eleito por aclamação, como desejava,  para o comando do partido. Com a candidatura praticamente garantida, ontem mesmo ele falou (para o mercado) com sotaque de candidato, prometendo acabar com o “Estado paquidérmico” através de privatizações e abraçar uma agenda de reformas.  A pergunta que ainda não tem resposta é sobre as companhias de viagem que ele terá na campanha.  Para ter o apoio dos partidos do Centrão ele abraçará Temer e defenderá seu governo impopular, com todos os riscos que isso carrega, ou o PSDB marchará em raia própria, com o apoio de mais dois ou três partidos?

Este é um dos dilemas no caminho de Alckmin. A própria presidência do partido tem seus prós e contras. Assumindo o cargo, ele andará pelo país em atividades partidárias, tornando-se mais conhecido, costurando apoios,  antecipando seu discurso  e buscando se consolidar como a alternativa do centro, o que significa angariar o apoio do mercado, do empresariado e das elites anti-Lula e temerosas de Bolsonaro. Mas o cargo é espinhoso, exigirá paciência com a tricotagem partidária, a pacificação de rebeldes como o prefeito Arthur Virgílio, a administração do tempo de televisão e dos recursos do fundo eleitoral, que devem ser distribuídos entre todos os candidatos do partido, em todos os níveis. Isso é dor de cabeça aguda.

Para firmar-se como o nome do centro – depois do fracasso de Dória e do recuo de Huck – ele ensaiou alguns passos ontem. Prometeu ser agressivamente privatizante, embora tenha sido esta a principal causa de sua derrota por Lula em 2006.  Anunciou que, se eleito, defenderá uma “agenda reformista”,  rótulo que hoje é exibido por Temer,  e comprometeu-se com a criação de um Ministério da Segurança Pública.  Foram chispas de uma plataforma conservadora que ainda será aprimorada.  Mas uma candidatura presidencial exige mais que discurso.   Ele, como os outros, precisará de máquina (embora tenha a de São Paulo, que é formidável), de tempo de televisão, de dinheiro e de alianças regionais. E para isso, precisará construir uma boa coalizão. Ele falou em uma aliança com seis ou sete partidos, mais quais seriam eles?  À primeira vista, pode contar com o DEM e com o PPS, que ficou sem Huck. Mas isso é pouco.

São as coalizões que ampliam o tempo de televisão e engordam o bolo do fundo eleitoral.  Sozinho, o PSDB terá o terceiro maior tempo de TV, de 1min18,5s em cada um dos dois blocos diários de 12 minutos no horário eleitoral. É pouco.   Já o PMDB de Temer, juntamente com os partidos  do Centrão, teria a metade do tempo de cada bloco.  Este trunfo é que tem animado a turma de Temer a pensar em sua candidatura à reeleição ou na escolha de outro candidato que represente o governo golpista. Este candidato pode ser Alckmin, por que não? Afinal, o PSDB apoiou o golpe do impeachment, apoiou o governo Temer e suas contra-reformas, ocupou e ainda ocupa cargos no primeiro escalão.   Se a convenção do dia 9 aclamar Alckmin como presidente do partido e aprovar o desembarque do governo, será como diz o senador Humberto Costa: o PSDB sairá do governo mas a marca do governo Temer não sairá do PSDB.  O casamento renderia, além de um enorme tempo de TV, um bom quinhão do dinheiro do fundo eleitoral.

Mas firmar esta aliança pode representar também, para Alckmin, um salto no abismo, atraindo a rejeição hoje devotada pelo povo brasileiro ao governo de Temer.

Este é o mais agudo dos dilemas do tucano.

Dispondo de apenas 5% de preferência, na média das pesquisas, ele terá que crescer muito para alcançar Lula, que tem mais de 30%, e superar Bolsonaro, que gira entre 18% e 19%.  Se conseguir, a eleição ficará mais parecida com 2006 do que com 1989.  Nesta segunda-feira Alckmin profetizou também que Lula já bateu no teto. É cedo para dizer isso.

A projeção de uma disputa com uma dezena de candidatos, como em 1989, vai se frustrando.  As definições das últimas horas foram importantes.  Por ora, enxergamos um quadro com Lula, Bolsonaro, Alckmin e Ciro Gomes. Marina e Boulos são incertos.  E poderá haver alguém do bloco que gravita em torno de Temer, se Alckmin tiver o juízo de rejeitar tal aliança.

Tereza Cruvinel é jornalista de política.