Tereza Cruvinel: “Lula, Renan e outras alianças necessárias”

25/08/2017 | Política

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Brasil 247 – 23/08/2017

Uma nuvem tisnou o entusiasmo de petistas e eleitores de Lula com o sucesso de sua caravana pelo Nordeste, marcada por encontros calorosos com o povo pobre da região: o encontro amistoso com o senador Renan Calheiros, com quem dividiu o palanque em Alagoas. Será que ele está novamente disposto a fazer alianças com a “vanguarda do atraso” para conseguir se eleger e governar?, perguntaram-se nas redes sociais os lulistas, alguns com maior, outros com menor irritação. É verdade que o PMDB apunhalou o PT e Dilma, e que o próprio Renan votou a favor do impeachment no ano passado. Mas não menos certo é que Lula precisará, sim, de refazer alianças para além da esquerda, vale dizer, para além do PC do B, dos movimentos sociais organizados e quem sabe, do PDT e do PSB, pois é cedo para saber como marcharão eleitoralmente estes dois antigos aliados no pleito de 2018.

Se Lula conseguir ser candidato, não se elegerá apenas com o terço do eleitorado que nunca o abandonou, nem ao PT, mesmo nos piores momentos, como no chamado mensalão de 2005, ou na crise do governo Dilma, gestada para levar ao golpe. Terá que reconquistar setores perdidos da classe média, e não apenas nos grandes centros urbanos. Precisará de estruturas de campanha nos estados onde o PT existe precariamente, como é, inclusive, o caso de Alagoas. Terá que espantar novamente o “risco Lula”, que voltará agora com mais força do que em 2002, na esteira do discurso de Temer e aliados, que tentam colocar em Dilma toda a culpa pelo desastre econômico que se seguiu ao golpe. Para isso, Lula precisará de interlocução com setores do capital, especialmente do empresariado produtivo, restaurando uma base de confiança em favor do crescimento, como aquela cimentada em 2002 com a Carta ao Povo Brasileiro. As condições são outras, os compromissos também o serão, mas será preciso firmá-los: em favor da restauração democrática, da retomada do crescimento e da construção de uma sociedade inclusiva, sem o quê, não haverá mercado.

A pavimentação deste caminho exigirá alianças. Depois de ser derrotado em 1989, 1994 e 1998, Lula impôs ao PT algumas condições para ser candidato em 2002. Queria ampliar o leque das alianças partidárias para ter palanques firmes em todos os estados. Precisava de um vice que dialogasse com o empresariado. E a campanha teria que ser tocada de forma profissional, por um marqueteiro vitorioso, cujo nome ele já tinha, Duda Mendonça. José Dirceu, então presidente do PT, encarregou-se desta engenharia, começando por convencer o próprio PT. Depois apresentou José Alencar a Lula e trataram de viabilizar sua escolha como companheiro de chapa. E vieram as costuras de alianças. O PMDB ficou com Serra naquela disputa mas boa parte de seus líderes regionais apoiou Lula. E vieram, é claro, partidos menores, por cujo apoio o PT pagou caro, nos dois sentidos. Pagou em recursos, como a Valdemar Costa Neto, para garantir a aliança com o PL ao qual Alencar era filiado, e pagou moralmente depois, no caso mensalão, com a condenação do próprio Dirceu, Genoíno e Delúbio. O filho de Alencar, o empresário Josué Alencar, agora é lembrado como possível vice de Lula.

Com os erros, o PT deve ter aprendido e não poderá mesmo repeti-los. Mas isso não implica em negar o acerto da tese da ampliação das alianças, que teve peso importante na vitória de 2002. Os alérgicos devem pensar nisso, quando virem novamente Lula no palanque com alguém como Renan Calheiros, disposto a alinhar-se ao PT para derrotar a grande aliança golpista que hoje sustenta Temer. Renan votou contra Dilma mas foi ele que articulou a fórmula que lhe garantiu a preservação dos direitos políticos. Apoiou Temer no inicio mas logo percebeu a inviabilidade de seu governo e começou a combater suas reformas, chegando logo ao rompimento. Tem problemas com a Justiça mas quem são hoje os puros do sistema político? Outras alianças virão.  Devem ser mais seletivas, devem ser baseadas em compromissos e não em cifrões para financiar campanhas, até porque dinheiro à farta não haverá, como em 2002. Não poderá o PT novamente terceirizar finanças seja para um Marcos Valério ou para uma Odebrecht.

Se Lula ganhar, será preciso ter maioria para governar, ou haverá novo golpe. Alianças continuarão sendo necessárias, embora os erros cometidos na montagem da base lulista não possam também ser repetidos.

Muitos outros erros não poderão ser repetidos, especialmente o de ter deixado em segundo plano a politização e a mobilização permanente da sociedade. A base social que Lula conseguir rearticular não poderá novamente ser contentada apenas com a inclusão no consumo. Isso é uma coisa. Outro é o purismo ideológico, que levará ao isolamento, ameaçando a vitória eleitoral, se Lula conseguir ser candidato.

Tereza Cruvinel é  jornalista.